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terça-feira, 10 de setembro de 2013

Gente do meu país…

ESTORNINHOS
 

Gente do meu país…
A casa de férias ficava numa terra chamada Estorninhos (a vinte km de Manta Rota), quando saio da estrada principal e entro na estrada que vai dar a Estorninhos começo a pensar, onde é que eu me venho meter… à minha frente ia o dono da casa, num outro carro, a indicar-me o caminho. Sigo o carro, nem tenho tempo para observar a paisagem, só me lembro de subir, descer e subir novamente. Quando chego a Estorninhos, observo que estou rodeada de montes e isolada de tudo. Já tinha andado alguns km, quando o carro guia, vira e entra numa estrada de terra batida, segui-o com alguma dificuldade, tal era o pó… onde ficará a casa - pensava eu, um pouco desanimada. O carro desce um monte volta a subir e eis que chego ao destino. Havia uma vivenda bonita, com dois pisos, um pouco afastada da casa, existia uma outra casa bem pequena, com vários anexos, toda caiada de branco, e qual é o meu espanto, vejo as cabecitas de um casal de idosos a espreitar.

 – Quem seriam aquelas pessoas, pensei eu.

O Sr. Alexandre o dono da vivenda, mostrou-me a casa, ia ficar no andar de cima, a entrada era feita por umas escadas no exterior da moradia. Era uma casa, como muitas casas, nada de especial, com tudo o que é necessário para me sentir confortável. Mais tarde, aparece a dona Anabela, a esposa do Sr. Alexandre, muito sorridente e veio perguntar-me se estava tudo em ordem, respondi que sim e fui arrumar as roupas e como sempre chego à conclusão que metade da roupa era o suficiente…

Depois de almoçar, descansei um pouco, arrumei a toalha de praia, a geleira com alguns iogurtes, água e umas bolachas e lá fui à aventura pensando:

 - Será que vou dar com o caminho para a praia!? Quando entrei no carro, reparei que ao pé das casinhas caiadas, estava sentado numa cadeirita o senhor que espreitava de manhã, acenei com a mão e ele de imediato fez o mesmo.

Depois de sair da estrada de terra batida, entrei na nacional e comecei observar a paisagem, há tantos anos que vou para o Algarve e nunca imaginei em que o Algarve tivesse uma beleza daquelas, pensei sempre que o Algarve era praia e divertimentos à noite. Era uma beleza diferente do habitual, não sei bem explicar… haviam vários montes e cada um deles tinha uma moradia, cada uma mais bonita que a outra, todas elas tinham nome, sempre nomes estrangeiros, e cheguei à conclusão que todas ou quase todas aquelas moradias eram de estrangeiros.

Quando cheguei à praia, nada de novo, as mesmas caras, um pouco mais velhas como eu, e algumas caras novas… na praia, comecei a pensar, naqueles idosos que estavam a espreitar, tenho que falar com eles.

De regresso aos Estorninhos, observo novamente a paisagem, cada vez mais encantada, eram as alfarrobeiras, as figueiras, os enormes cachos de uvas penduradas à espera que fossem apanhados, as perdizes na estrada, sem se importarem com o carro, os coelhos bravos, etc. Estava a fazer praia e campo ao mesmo tempo, que maravilha…

Depois de jantar, dei uma espreitadela para as casas caiadas, e reparei que o casal de idosos estavam sentados na rua, a apanhar o fresquinho da noite, mas não era só isso, tinham uma cadeirinha com uma almofada ao é deles, como que estivessem à espera de alguém.

Desci as escadas e fui ao pé do casal.

-Boa, noite! Disse eu

-Boa noite! Responderam eles.
-Sente-se um bocadinho ao pé de nós, disseram com um sorriso de orelha a orelha.
Afinal, aquela cadeira estava à minha espera.
Falou-se de muita coisa, das suas profissões quando novos, de como era os Estorninhos no antigamente, da subsistência, enfim de muita coisas… o casal eram os pais da senhora que me alugou a casa. Fiquei encantada com aquelas pessoas, quanto mais falava com eles, mais vontade tinha de estar com eles… já não existem pessoas assim, pensei.
Pessoas que vivem tão perto da cidade mas ao mesmo tempo tão longe, era a carrinha da junta de freguesia que os levava ao médico, passaram os dias sempre ali, no monte, isolados de tudo e de todos, qual internet, qual facebook, eram eles mesmo em carne e osso que falavam para mim.
Estamos sempre a aprender e são estas pessoas que mal sabem escrever o seu nome que nos dão lições de vida. Para eles o mais importante era a harmonia entre o casal, o trabalhar na terra, donde tiravam o seu sustento, não se lamentavam das suas doenças, a bem dizer, não se lamentavam de nada.
 A dona Maria Teresa, era esse o nome da senhora, era uma pessoa que me é muito difícil descrever, tinha oitenta e poucos anos, parecia uma criança, em ponto grande, porque não tinha maldade, era pura, não é por acaso que dizem que existem pessoas adultas, com pensamentos de crianças, são pessoas que só nos dão carinho e nos transmitem energia positiva, estão cá, neste mundo, para servir os outros… passei as minhas noites de férias à conversa com eles e não me arrependo, enchi o meu coração e isso foi muito positivo para mim.
Fizeram questão de me oferecer uma garrafa do vinho que eles fizeram e um frasco de mel das suas colmeias.
- Quer ver os meus buracos velhos? Perguntou a dona Teresa.
Eu, ao princípio não estava a perceber a pergunta, queria que eu visse as suas casas.
Respondi que sim, eram casas simples, como eles, a cozinha com tachos muito areados, o quarto, a sala de estar a salinha de costura e o forno onde antigamente se cozia o pão.
A dona Maria Teresa e o Sr. Manuel, nem sabem a tranquilidade e a paz que me conseguiram transmitir, são pessoas de mãos desertas, mas com um coração do tamanho do mundo…
Nunca me tinha acontecido despedir-me de pessoas que mal conhecia e ficar com pena de as deixar, e senti que o mesmo sucedeu com eles…
 -quando vier ao Algarve, venha visitar-nos - disse o Sr. Manuel.
Irei certamente, obrigada dona Maria Teresa e Senhor Manuel, foram umas pessoas incríveis, vou sempre recordá-los com muito carinho e sempre que poder, vou passar pelo vosso monte para vos cumprimentar.