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terça-feira, 30 de julho de 2013

(continuação) Só queria que fossem caracóis

  Só queria que fossem caracóis

(continuação)
...Um dia bem cedo, a jovem teve de ser acordada para se levantar, meia atordoada, foi tomar banho e lavar os seus cabelos como ela gostava tanto de fazer, mas foi-lhe tão difícil…, principalmente quando começou a secá-los. Não tinha força e começou a reparar que força nos dois braços não eram iguais, mas o que me está a acontecer? -Pensou Mariana.
O médico de família, era um bom homem e muito bom médico, era um homem bem constituído e um pouco calvo, de poucas falas e começou a escrever depois de ter examinado a pobre Mariana.
- Dr. É muito grave?- Perguntaram os pais de Mariana.
O médico, olhou para Mariana e para os pais e disse:
- Ela, amanhã tem que ir a uma consulta urgente de neurologia.
Ficou um silêncio na sala do médico, o chão começou a ser pouco para colocar os pés, a primavera começou naquele instante a ficar gelada, nada mais havia a perguntar pois também o médico não sabia bem o que se estava a passar, teria sido uma trombose?!...
Estávamos no ano 1977, não havia a facilidade de se encontrar um médico daquela especialidade, como há hoje, mas felizmente uma vizinha muito amiga dos pais de Mariana, comentou que conhecia um. 
- É muito bom médico, ando a ser tratada por ele, há algum tempo, disse a vizinha.
Era hora de almoço, Teresa a irmã de Mariana, como habitual foi almoçar a casa dos pais.
- Como está ela mãe?- Perguntou Teresa, com um ar preocupado. Ela também andava numa grande aflição por ver a sua irmã assim, sabia bem que poderia ser algo de grave.
- Está na mesma, passa os dias a dormir e comer nem vê-lo. - Respondeu a mãe.
Fez-se silêncio, vontade de falar não havia, a alegria daquela casa tinha-se tornado num escuro sem luz. Nesse dia, a mãe tinha comprado cerejas, pois sabia que Mariana gostava muito.
-Talvez ela como algumas,  pensou a mãe de Mariana.
Mariana estava entusiasmada por ver as cerejas, muito agoniada, mas ao mesmo com uma força interior para poder comê-las, ao pegar na tacinha das cerejas, a taça cai para o chão, sem que a jovem pudesse compreender o sucedido, começou a chorar, ela tinha perdido a força do braço esquerdo.
No dia seguinte, foi dia de consulta do tal médico neurologista. A mãe entrou com Mariana no consultório, ia com muito medo do que poderia ouvir. Foram feitos muitos testes. A cara foi picada do lado direito e do esquerdo, os braços foram esticados para a frente com os olhos fechados e os pés picados de igual modo. Toda a parte esquerda de Mariana estava com muito pouca sensibilidade, ou quase nenhuma. O médico ficou muito apreensivo com a situação, pois tratava-se de uma jovem de dezassete anos.
- Tudo indica que Mariana teve uma trombose,- disse o médico.
- Mas doutor, ela é tão nova? Interrogou a mãe.
- Sim, mas existem mais casos assim,- disse o médico.
O médico passou uma série de exames para a Mariana fazer, RX, análises, etc.
Os pais foram com Mariana fazer todos aqueles exames.
Lá fora, no jardim, as flores iam abrindo os seus botões, embelezando e perfumando a casa de Mariana, enquanto ela continuava no seu quarto a dormir, estava cada vez mais fraca.
Logo que se souberem os resultados dos exames, Mariana foi de novo ao médico neurologista. Os exames, não mostravam nada que pudesse justificar toda aquela fragilidade. O médico falou com os pais de Mariana disse que ela tinha que começar a fazer terapia da fala, uma vez que ela não conseguia falar normalmente.
Era fim-de-semana, o pai da rapariga resolveu ir dar um passeio até ao campo, ele queria que ela apanhasse ar fresco.
 - Talvez lhe faça bem! - Disse o pai de Mariana.
 Foram todos para o campo, mas foi por pouco tempo, pois Mariana nem conseguia levantar a cabeça para encarar a luz do sol.
Na segunda-feira seguinte, era dia da consulta de terapia da fala. Nessa manhã curiosamente Mariana estava muito bem-disposta, mas não seria por muito tempo. Quando estava na sala de espera do consultório, Mariana reparou que na posição sentada, não conseguia manter a perna esquerda quieta, esta escorregava sem que ela desse por isso.
- Mariana! Chamou a empregada.
- Pode entrar, a Dra., vai recebê-la,- disse a empregada.
Mariana entrou sozinha, tinha que ser ela a explicar o sucedido para que a médica visse a sua dificuldade em falar. A médica observou-a e chegou à conclusão que a terapia da fala, não iria resolver o problema.
- Bem, Mariana o teu problema não é comigo, tens que fazer outro tipo de exames, pois existe algo em ti que não está bem explicado,- disse a médica.
Mariana, disse que sim com a cabeça e saiu mais confusa que quando entrou.
Passaram-se dias, semanas e tudo continuava na mesma, aquela casa estava toda às avessas, como seria bom ver uma luzinha ao fundo do túnel ,mesmo pequena que fosse…
Mais uma vez, a jovem foi com a mãe ao neurologista, e foi com enorme insatisfação que o médico ouviu o sucedido.
- Vou pedir para internarem a Mariana no hospital, lá podem fazer todos os exames necessários e ficamos todos mais tranquilos. - Disse o médico.
A Mariana quando ouviu a palavra hospital, teve que voltar a cara, para não verem a lágrima que estava a correr pelo seu rosto.
Nesse mesmo dia, os pais levaram-na para o hospital, entrou pelo lado das urgências e foi logo atendida, o médico de serviço, ao ler o relatório do outro médico e depois de examiná-la, disse que não podia interná-la, porque não havia camas disponíveis. Foi nessa altura que o pai de Mariana, se passou, ele que até ali, tinha encarado tudo com muita calma.
- O Dr., vai-me desculpar, mas a minha filha não sai deste hospital, eu não vou com ela para outro lado! É aqui que ela vai ficar! -Disse o pai de Mariana, muito zangado.
 Neste mesmo instante chega um neurocirurgião que tinha acabado de ver outro doente e intrigado, meteu-se na conversa.
- O que se passa? -Perguntou o neurocirurgião.
O pai começa a explicar o sucedido. O neurocirurgião, observa Mariana fazendo-lhe alguns testes.
- Esta jovem não sai deste hospital, fica à minha responsabilidade, não tem cama hoje, mas amanhã já tem!- Exclamou o neurocirurgião. 
O pai encheu o corpo de ar e respirou bem fundo e agradeceu, tinha-lhe saído um peso de cima, alguém tinha que dar andamento à situação.
Mariana com um olhar muito triste despediu-se do pai e foi levada para uma sala que tinha camas, não sabia bem o que era aquilo. A mãe ficou com Mariana,  até que ela fosse para a enfermaria.
Existem coisas na nossa vida que não sabemos explicar, porque estaria aquele médico neurocirurgião precisamente aquela hora ali, se não fosse ele tudo seria bem diferente, coincidências?!...
(continua)