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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Só queria que fossem caracóis

  (continuação)
...No dia seguinte, Mariana foi para a enfermaria particular, tinha apenas três camas, bem perto da porta, estava uma cama com os lençóis muito bem esticados e uma colcha muito branca, os lençóis tinham as iniciais  do hospital a azul, era a cama de Mariana e iria ser por muito tempo…
Quando a mãe se despediu, a jovem ficou meio perdida, ficar ali sozinha como seria, ia começar uma nova etapa. Na cama à frente da sua estava uma idosa que aparentava ter 70 anos, ao lado esquerdo, uma outra cama com uma senhora, devia ter 60 anos.
 Aquele quarto começou a dar-lhe alguma segurança, afinal se aquelas senhoras tinham que estar ali,  porque não ela também.
O dia acordou sorridente, o sol entrou pela janela sem ser convidado, parecia desejar as boas vindas a Mariana.
- Bom dia Mariana! -Exclamou uma enfermeira muito sorridente.
- Bom dia! -Respondeu Mariana, reparando que a jovem enfermeira estava grávida. A enfermeira, apresentou as duas doentes e disse que o seu médico ia vê-la nessa manhã.
A meio da manhã, bateram à porta do quarto, era o médico da Mariana, um homem de estatura média, calvo e com uns olhos muito azuis.
- Bom dia jovem! -Exclamou o médico, sorrindo.
- Bom dia Dr. - Respondeu Mariana.
O médico, fez muitas perguntas à rapariga, fez-lhe todos os testes que o neurologista já tinha feito e confirmou que ela não tinha força do lado esquerdo, medicou-a e passou muitos exames e análises para fazerem a Mariana. O neurocirurgião, medicou a jovem e esta começou a andar menos mal disposta, começou a comer um pouco melhor, aquela cama do hospital começou a ser o seu quarto, começou a ter algum carinho por ele, era o seu cantinho. Havia um armário ao lado direito da sua cama, onde Mariana guardou as suas coisas, com muito carinho. No quarto havia uma janela enorme virada para a entrada do hospital, ali podia-se ver quando chegavam as visitas, ao pé da janela existia uma mesa redonda com três cadeiras e foi ali que Mariana, sentada numa daquelas cadeiras começou a ler um livro, aquela iria ser a sua sala de leitura.
Enquanto esperava pelo resultado dos exames Mariana  lia o seu livro, era uma história triste mas com um final feliz.
Uma manhã, apareceu a jovem enfermeira, com o seu sorriso habitual, e perguntou a Mariana:
- Queres vir comigo ao jardim apanhar flores para a tua jarra? -Perguntou a enfermeira.
- Sim, quero!- Exclamou Mariana muito feliz, pois ia apanhar um pouco de ar fresco.
Era um jardim enorme, tinha árvores muito antigas e um grande roseiral.
Apanhou algumas flores e quando chegou ao quarto, colocou-as não na sua jarra mas na que estava no centro da mesa, assim as flores também eram para as suas colegas de quarto.
Uma noite, estava Mariana a dormir profundamente quando se ouviu um estrondo enorme, a senhora que estava ao seu lado esquerdo, tinha caído para o chão.
- Bem bastam as minhas dores e os meus problemas, agora também cai para o chão,
 - disse a senhora meia a dormir meia acordada.
 A pobre criatura andava sempre a cair da cama, Mariana tinha que carregar na campainha para chamar a enfermeira.
Como era habitual, Mariana lia o seu livro sentada na cadeira ao pé da janela, até que as visitas chegassem. O livro falava de uma menina que tinha uma doença nervosa e que lhe tinha caído o cabelo e o seu maior desejo era que o cabelo nascesse aos caracóis e nasceu. Bem junto à testa nasceu um lindo caracol que colocou-o de imediato fora do lenço para que todos pensassem que tinha uma linda cabeleira aos caracóis.
- Finalmente chegaram as visitas! - Exclamou Mariana às suas colegas de quarto, a sua alegria estava a voltar, mas a força nos membros não. Adorava que as suas visitas chegassem, isso dava-lhe força para o resto do dia.
Passaram algumas semanas e não havia novidades sobre a doença de Mariana.
Era, dia do médico ir ver Mariana e trazia consigo o resultado dos exames.
- Olá jovem! Já tenho o resultado dos exames, temos que fazer um electroencefalograma, disse o médico.
- Que exame é esse Dr.? - Perguntou a Mariana
- É um exame à cabeça, mas fica descansada que não custa nada, -respondeu o médico.
Mariana, vestiu o seu robe, como estava tão magra parecia mais alta e seguindo a enfermeira, foi fazer o exame. O resultado foi entregue à enfermeira . O médico ao ver o resultado, pediu de imediato que a levassem no dia seguinte ,a uma clínica fazer uma angiografia cerebral.
A partir daquele momento começou tudo a andar muito depressa, Mariana começou a ficar muito preocupada, até porque já se sentia um pouco melhor e pensava que não eram precisos mais exames. Os pais foram avisados do que se estava a passar.Que teria visto o médico no electroencefalograma? -Questionou Mariana.
No dia seguinte, Mariana teve que se levantar cedo, estava muito preocupada com tudo o que estava a acontecer, a porta do quarto abriu-se.
- Mariana já está pronta? -Perguntou a enfermeira.
- Sim, onde vou fazer o exame? -Perguntou Mariana.
- Não tenhas medo é perto, mas tens de ir de ambulância. -Respondeu a enfermeira.
O pai da rapariga  já estava no hospital.
- Já chegou pai? .
- Sim, mas eu não posso ir contigo, fico aqui no hospital à espera.
- Mas pai, eles dizem que vai demorar, vai ficar tanto tempo à espera? -Questiona Mariana um pouco preocupada com o pai.
- Espero o tempo que for preciso ,-respondeu o pai.
Mariana, despediu-se dele e lá foi na ambulância.
Quando chegou, já estava o seu médico à espera juntamente com uma equipe de médicos.
- Olá jovem, bem-disposta? Perguntou o meu médico. Era tão engraçado, nunca a chamava pelo nome.
- Sim  -respondeu Mariana.
- Olha, vamos preparar-te para o exame, vais levar uma anestesia para que não sintas nada, porque é um pouco doloroso, mas não tenhas medo que vai correr tudo bem.
Mariana depois de estar a dormir, foi submetida a uma série de fotos ao cérebro. Naquela altura não havia TAC. nem  RM.
Quando começou a acordar, viu todos os médicos a olhar para todas aquelas fotos, como que as estivessem a estudar.
-Está tudo bem? Perguntou Mariana olhando para a enfermeira que estava ao pé dela.
- Não Mariana, tens que ser operada.
Mariana naquele momento, só queria era fugir, a operação nunca lhe tinha passado pela cabeça e sem que ninguém visse, limpou uma lágrima que teimava em sair. Ela era uma miúda forte, nunca se queixou, aceitou sempre bem tudo o que lhe estava a acontecer. A educação que o pai lhe tinha dado estava a revelar-se.
Assim que chegou ao hospital, saiu da ambulância deitada numa maca, estava muito fragilizada por causa do exame. O pai foi ter com ela.
- Então Mariana? -Perguntou o pai.
Mariana olhou para o pai bem dentro dos seus olhos e disse:
- Tenho que ser operada!- Respondeu a Mariana.
Aquele homem que aparentava ter uma grande força e que nunca queria mostrar a sua fragilidade naquele momento ficou sem fala, e Mariana, sentiu isso tudo. Passou a sua enorme mão, e seus dedos longos e perfeitos, sobre o rosto da filha, aquele gesto ficou na memória de Mariana para sempre...
Nessa noite, Mariana não conseguia dormir, mas foi por pouco tempo porque a na sua medicação, havia um comprimido para dormir.
Na manhã seguinte, apareceu o barbeiro do hospital no quarto de Mariana, com uma navalha, daquelas muito antigas e começou a rapar-lhe o cabelo. Foi tudo tão depressa que nem dava para a pobre rapariga pensar, como iria ficar de cabelo rapado…
Quando se viu ao espelho, nem se reconhecia, era preciso tapar a cabeça, pensou Mariana.
O pai ao saber que a filha iria ficar sem cabelo, apressou-se a comprar um lenço, na loja mais perto do hospital. O lenço tinha cores muito bonitas, mas era de lã e com o calor que fazia, mas Mariana ficou radiante, tapava a cabeça isso é que interessava.
Mariana estava com o pai numa sala que ficava ao pé do seu quarto, era a sala onde se podia ver televisão, quando apareceu o seu médico, este, fez sinal ao pai de Mariana pois queria falar-lhe a sós. Estava com um ar muito sério, e enquanto explicava ao pai, Mariana estava atenta e conseguiu perceber a suspeita do médico. Não comentou com ninguém, nem mesmo com o pai, o médico suspeitava de algo muito grave, talvez um tumor.
A rapariga sabia que era grave o que tinha, mas a sua juventude falava mais alto e isso não a deixava deprimida.
Era hora da visita, a hora que mais gostava, naquele dia estavam todos os seus familiares mais chegados, Mariana ficou radiante.
Nessa noite, foi preparada para a operação, deram-lhe medicação que nunca tinha tomado.
No dia seguinte já não tomou a sua refeição preferida, o pequeno-almoço. Foi levada de maca para a sala de operações. Na sala havia uma luz enorme por cima da sua cabeça. O médico observava os RX e foi ter com ela.
- Bem - disposta jovem? Perguntou o médico
- Sim. - Respondeu Mariana um pouco nervosa.
- Vou colocar-te esta máscara na cara e aos poucos vais deixar de nos ouvir e ver, está bem? Disse o médico
- Boa sorte! - Respondeu Mariana.
O médico sorrio, dando uma enorme tranquilidade a Mariana.
Quando acordou, já estava no quarto, abriu os olhos e olhando para os seus familiares, a primeira coisa que perguntou foi se tinha corrido tudo bem. Estes acenaram com a cabeça que sim e a pobre Mariana voltou a dormir até o outro dia. No dia seguinte, um raio de sol reflete-lhe nos olhos e Mariana acordou, eram tantas as dores de cabeça que nem se mexia, com a esperança que parassem, mas elas teimavam em ficar. 
- Bom dia Mariana, – disse a enfermeira.
- Bom dia ,– respondeu a rapariga, a muito custo.
- Então com te sentes, tens muitas dores? -Perguntou a enfermeira.
- Muitas, são dores que nem consigo explicar! - Exclamou a jovem.
- Vais tomar todos estes medicamentos que te vou dar e vais ver que as dores começam a desaparecer, – disse a enfermeira.
 Era tudo o que ela queria ouvir, ficar sem dores seria maravilhoso. Naquele momento tudo lhe vinha à ideia e lembrou-se do livro que tinha estado a ler, tal como a menina do livro também ela não tinha cabelo, e se o seu cabelo também nascesse aos caracóis como o da menina do livro… sempre gostara de cabelo aos caracóis, nesse momento pensou – só queria que fossem caracóis… 
No terceiro dia após a operação, o sangue que estava dentro da sua cabeça, da operação, começou a espalhar-se pelo rosto, como era possível que o seu rosto ficasse tão desfigurado, evitava ver-se ao espelho, só o fazia para ver se o rosto estava menos inchado. Nesse dia o médico apareceu para observar Mariana. Bateu à porta como sempre fazia e só depois é que entrava, Mariana sentia uma grande admiração pelo médico, era o seu anjo da guarda, era ele que estava aos poucos a tirar a jovem daquele pesadelo.
-Bom dia, jovem! Disse o médico sorridente.
- Bom dia Dr.! - Respondeu Mariana.
- Vou fazer-te alguns testes para ver se está tudo bem contigo. - Disse o médico, começando a fazer todos os testes que tinha feito antes da operação e pegando nas mãos de Mariana pediu a esta, para apertar as suas , o mais que pudesse, a jovem assim fez e, o médico disse:
- Já chega! Finalmente já tens força e é igual nas duas mãos, a boca já não está de lado, a força das pernas está igual, está tudo a correr pela positiva!- Exclamou o médico.
Chegou a hora da visita, vieram todos, e havia uma surpresa, os seus colegas foram visitá-la, ficou um pouco preocupada, pois parecia um monstro, com aquele rosto todo inchado e negro, mas pensou - se gostam de mim, nem vão reparar!
- Como te sentes Mariana? -Perguntaram os colegas.
- Agora já estou bem, a as minhas notas reprovei?!- Disse Mariana.
- Não Mariana, os professores passaram-te e ficas-te com as notas iguais às do segundo período, respondeu Lucília.
Mariana deu um sorriso de orelha a orelha estava feliz, no próximo ano estaria na mesma turma dos seus colegas.
Clarisse, era a que aparentava ter mais idade e talvez por isso que foi ela a oferecer em nome de todos uma enorme caixa de bombons.
- Toma é para ti, para aqueceres o teu coração, é de todos nós. -Disse Clarisse.
Mariana ficou tão feliz, aquele presente representava tanto para ela, representava a amizade dos seus colegas de liceu, ficou naquele momento triste e feliz ao mesmo tempo, como era bom saber que tanta gente se preocupava com ela.
Depois dos colegas saíram, apareceu o médico a felicitar os seus familiares.
- Parabéns, finalmente esta jovem já está bem, ela sofreu de  uma hemorragia de um angioma do lado direito que lhe provocou a paralisia do lado esquerdo, mas agora está tudo bem, disse o médico.
Os pais de Mariana nem sabiam como agradecer ao médico.
-Muito obrigada Dr. por tudo o que fez por Mariana. - Disseram os familiares. 
Nesse instante, a jovem lembrou-se da bolada que levou no liceu e comentou o sucedido com o médico.
- Não jovem, o angioma já existia, essa bolada e o que aconteceu foi uma coincidência. Estou muito feliz por ti, pois se não operássemos tão rápido poderias ter ficado cega.
O médico despediu-se de Mariana e dos seus familiares felicitando-os novamente.
Passaram-se alguns dias e a jovem cada dia se sentia melhor, estava ela deitada quando apareceu a enfermeira.
- Mariana, sabes que dia é hoje? É véspera de S. António! – Disse a enfermeira.
A rapariga olhou para a enfermeira um pouco curiosa com a afirmação.
- Hoje, à noite, escreves três nomes de rapazes com quem simpatizas, dobras bem os papelinhos e coloca-os debaixo da tua almofada, amanhã de manhã quando acordares, tiras só um papelinho abres e vez o nome e esse vai ser com quem tu um dia vais casar. -Disse a enfermeira.
- Diz a lenda que S. António chamado de “casamenteiro”, mostra com quem vais casar. -Disse a enfermeira.
Chegou a noite e Mariana antes de adormecer, escreveu o nome de três rapazes que conhecia e simpatizava, colocou os três papelinhos debaixo da almofada. Na manhã seguinte, já não se lembrava dos papelinhos até vir a enfermeira.
- Então, Mariana já sabes quem é?- Perguntou a enfermeira.
- Oh! Nunca mais me lembrei! Exclamou Mariana, retirando de imediato um papel, leu-o e sorrio.
- Ficas-te satisfeita, com o nome? – Perguntou a enfermeira.
- Sim, simpatizo muito com este rapaz, já o conheço desde que me lembro que existo, só resta esperar para saber que S. António acertou. - Respondeu Mariana, não sabendo ela que mais tarde iria casar com esse rapaz, mais uma coincidência na sua vida…
Passados alguns dias após a operação, o médico disse a Mariana que lhe ida dar alta, estava a correr tudo muito bem e tinha chegado a hora ir para casa. Nessa altura a rapariga ficou um pouco apreensiva, ficou feliz mas ao mesmo com um nó na garganta, sempre foi tratada com muito carinho e amizade e aquele cantinho, como ela chamava, era como se fosse seu, quem iria para aquela cama quando se fosse embora…
-pensou Mariana.
Chegou o grande dia, Mariana estava muito feliz naquela manhã, vestiu umas calças de ganga e uma T-shirt, colocou na cabeça um lenço que a irmã lhe tinha comprado e guardou o que o pai lhe tinha comprado, na sua mala. Chegada a hora da visita, apareceu o pai, com um ar de satisfeito e disse:
- Estás pronta Mariana? Perguntou o pai.
- Sim pai, estou! Respondeu a jovem.
Despediu-se das outras doentes, já não eram as mesmas que quando chegou, durante aquele tempo que esteve no hospital, passaram por aquele quarto, várias doentes. Deu um grande beijo à enfermeira e reparou que esta sorria com a mão a na boca, foi então que Mariana se lembrou que um dia a enfermeira, estava tão mal disposta por causa da gravidez que foi vomitar, e com a aflição ,a sua dentadura caiu para dentro da sanita. A enfermeira, em vez de tirar os dentes da sanita, lembrou-se de puxar o autoclismo e os dentes lá se foram… era um amor de pessoa aquela enfermeira, nasceu mesmo para aquela profissão.
Ao lado do seu pai lá ia Mariana, com uma grande felicidade, ia curiosa, como estaria a sua casa – pensou Mariana.
Foi com muita alegria e lágrimas que foi recebida em casa, estavam lá todos os seus entes queridos.
 
Com o passar do tempo o cabelo da jovem começou a crescer, muito forte e muito escuro, liso e sem caracóis, que gostaria tanto de ter.

Após dois anos do sucedido, Mariana andava tão bem que o neurologista, pensou em retirar a medicação que tinha sido receitada pelo neurocirurgião, após alguns dias sem medicação, Mariana teve um ataque de epilepsia. Não podia deixar de tomar a medicação.


Passados dez Mariana casou, com o rapaz do papelinho, teve dois filhos, uma rapariga e um rapaz.
 Quando tinha cerca de quarenta anos, foi a uma consulta de neurogirugia, porque andava sempre com dores de cabeça. Não conhecia a uma médica, pois o médico que a operou já tinha falecido, esta ao ver os exames que Mariana tinha trazido do hospital, disse:
- Mariana, pode crer que o médico que a operou, fez um bom trabalho, pois naquela altura operações à cabeça era como operar no escuro, vai fazer um TAC e uma RM. – Disse a médica.
Mariana, ficou um pouco preocupada pois, nunca tinha, feito aqueles exames.
Fazer os exames não a preocupava, mas sim os resultados. Depois de os exames estarem prontos, começou a ler o relatório, tinha múltiplos cavernomas no sistema nervoso central, o que queria dizer tudo aquilo, pensou Mariana. Foi mostrar os exames à médica e esta explicou que cavernomas são má-formações vasculares congénitas. Foi um grande choque, ao saber ao fim de tantos anos, que tinha mais angiomas, como aquele que há muito tinha sangrado provocando um coágulo de sangue.
Durante algum tempo andou muito ansiosa, mas depois de muito pensar, a sua politica de vida começou a ser:
 Saborear a vida, desfrutando de todos os bons momentos, juntamente com a sua família.

Mariana partilha a sua história, com todos, sobretudo com todos aqueles que sofrem, dizendo que devem ter sempre muita força, muita fé e nunca desistir...
 

A todos aqueles que tiveram paciência de ler, esta história verídica,
 -Um bem hajam !
Isabel

terça-feira, 30 de julho de 2013

(continuação) Só queria que fossem caracóis

  Só queria que fossem caracóis

(continuação)
...Um dia bem cedo, a jovem teve de ser acordada para se levantar, meia atordoada, foi tomar banho e lavar os seus cabelos como ela gostava tanto de fazer, mas foi-lhe tão difícil…, principalmente quando começou a secá-los. Não tinha força e começou a reparar que força nos dois braços não eram iguais, mas o que me está a acontecer? -Pensou Mariana.
O médico de família, era um bom homem e muito bom médico, era um homem bem constituído e um pouco calvo, de poucas falas e começou a escrever depois de ter examinado a pobre Mariana.
- Dr. É muito grave?- Perguntaram os pais de Mariana.
O médico, olhou para Mariana e para os pais e disse:
- Ela, amanhã tem que ir a uma consulta urgente de neurologia.
Ficou um silêncio na sala do médico, o chão começou a ser pouco para colocar os pés, a primavera começou naquele instante a ficar gelada, nada mais havia a perguntar pois também o médico não sabia bem o que se estava a passar, teria sido uma trombose?!...
Estávamos no ano 1977, não havia a facilidade de se encontrar um médico daquela especialidade, como há hoje, mas felizmente uma vizinha muito amiga dos pais de Mariana, comentou que conhecia um. 
- É muito bom médico, ando a ser tratada por ele, há algum tempo, disse a vizinha.
Era hora de almoço, Teresa a irmã de Mariana, como habitual foi almoçar a casa dos pais.
- Como está ela mãe?- Perguntou Teresa, com um ar preocupado. Ela também andava numa grande aflição por ver a sua irmã assim, sabia bem que poderia ser algo de grave.
- Está na mesma, passa os dias a dormir e comer nem vê-lo. - Respondeu a mãe.
Fez-se silêncio, vontade de falar não havia, a alegria daquela casa tinha-se tornado num escuro sem luz. Nesse dia, a mãe tinha comprado cerejas, pois sabia que Mariana gostava muito.
-Talvez ela como algumas,  pensou a mãe de Mariana.
Mariana estava entusiasmada por ver as cerejas, muito agoniada, mas ao mesmo com uma força interior para poder comê-las, ao pegar na tacinha das cerejas, a taça cai para o chão, sem que a jovem pudesse compreender o sucedido, começou a chorar, ela tinha perdido a força do braço esquerdo.
No dia seguinte, foi dia de consulta do tal médico neurologista. A mãe entrou com Mariana no consultório, ia com muito medo do que poderia ouvir. Foram feitos muitos testes. A cara foi picada do lado direito e do esquerdo, os braços foram esticados para a frente com os olhos fechados e os pés picados de igual modo. Toda a parte esquerda de Mariana estava com muito pouca sensibilidade, ou quase nenhuma. O médico ficou muito apreensivo com a situação, pois tratava-se de uma jovem de dezassete anos.
- Tudo indica que Mariana teve uma trombose,- disse o médico.
- Mas doutor, ela é tão nova? Interrogou a mãe.
- Sim, mas existem mais casos assim,- disse o médico.
O médico passou uma série de exames para a Mariana fazer, RX, análises, etc.
Os pais foram com Mariana fazer todos aqueles exames.
Lá fora, no jardim, as flores iam abrindo os seus botões, embelezando e perfumando a casa de Mariana, enquanto ela continuava no seu quarto a dormir, estava cada vez mais fraca.
Logo que se souberem os resultados dos exames, Mariana foi de novo ao médico neurologista. Os exames, não mostravam nada que pudesse justificar toda aquela fragilidade. O médico falou com os pais de Mariana disse que ela tinha que começar a fazer terapia da fala, uma vez que ela não conseguia falar normalmente.
Era fim-de-semana, o pai da rapariga resolveu ir dar um passeio até ao campo, ele queria que ela apanhasse ar fresco.
 - Talvez lhe faça bem! - Disse o pai de Mariana.
 Foram todos para o campo, mas foi por pouco tempo, pois Mariana nem conseguia levantar a cabeça para encarar a luz do sol.
Na segunda-feira seguinte, era dia da consulta de terapia da fala. Nessa manhã curiosamente Mariana estava muito bem-disposta, mas não seria por muito tempo. Quando estava na sala de espera do consultório, Mariana reparou que na posição sentada, não conseguia manter a perna esquerda quieta, esta escorregava sem que ela desse por isso.
- Mariana! Chamou a empregada.
- Pode entrar, a Dra., vai recebê-la,- disse a empregada.
Mariana entrou sozinha, tinha que ser ela a explicar o sucedido para que a médica visse a sua dificuldade em falar. A médica observou-a e chegou à conclusão que a terapia da fala, não iria resolver o problema.
- Bem, Mariana o teu problema não é comigo, tens que fazer outro tipo de exames, pois existe algo em ti que não está bem explicado,- disse a médica.
Mariana, disse que sim com a cabeça e saiu mais confusa que quando entrou.
Passaram-se dias, semanas e tudo continuava na mesma, aquela casa estava toda às avessas, como seria bom ver uma luzinha ao fundo do túnel ,mesmo pequena que fosse…
Mais uma vez, a jovem foi com a mãe ao neurologista, e foi com enorme insatisfação que o médico ouviu o sucedido.
- Vou pedir para internarem a Mariana no hospital, lá podem fazer todos os exames necessários e ficamos todos mais tranquilos. - Disse o médico.
A Mariana quando ouviu a palavra hospital, teve que voltar a cara, para não verem a lágrima que estava a correr pelo seu rosto.
Nesse mesmo dia, os pais levaram-na para o hospital, entrou pelo lado das urgências e foi logo atendida, o médico de serviço, ao ler o relatório do outro médico e depois de examiná-la, disse que não podia interná-la, porque não havia camas disponíveis. Foi nessa altura que o pai de Mariana, se passou, ele que até ali, tinha encarado tudo com muita calma.
- O Dr., vai-me desculpar, mas a minha filha não sai deste hospital, eu não vou com ela para outro lado! É aqui que ela vai ficar! -Disse o pai de Mariana, muito zangado.
 Neste mesmo instante chega um neurocirurgião que tinha acabado de ver outro doente e intrigado, meteu-se na conversa.
- O que se passa? -Perguntou o neurocirurgião.
O pai começa a explicar o sucedido. O neurocirurgião, observa Mariana fazendo-lhe alguns testes.
- Esta jovem não sai deste hospital, fica à minha responsabilidade, não tem cama hoje, mas amanhã já tem!- Exclamou o neurocirurgião. 
O pai encheu o corpo de ar e respirou bem fundo e agradeceu, tinha-lhe saído um peso de cima, alguém tinha que dar andamento à situação.
Mariana com um olhar muito triste despediu-se do pai e foi levada para uma sala que tinha camas, não sabia bem o que era aquilo. A mãe ficou com Mariana,  até que ela fosse para a enfermaria.
Existem coisas na nossa vida que não sabemos explicar, porque estaria aquele médico neurocirurgião precisamente aquela hora ali, se não fosse ele tudo seria bem diferente, coincidências?!...
(continua)

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Só queria que fossem caracóis...

Hoje, vou começar a contar uma história verídica que há muito queria contar...

(pintura a aguarela)
 
Existem histórias nas nossas vidas que conhecemos muito bem, como se fossem nossas ou mesmo nossas. Existe, a altura certa que queremos partilhar com os outros a história que guardamos dentro de nós…
 
Esta história passou-se em 1977, é uma história verídica que fala de Mariana, uma jovem com dezassete anos, alta, morena e sempre muito alegre, sentia que todos os seus colegas de liceu gostavam de estar com ela, talvez porque Mariana estava sempre bem-disposta, estava no primeiro ano do antigo curso complementar do liceu, parecia vender saúde, mas mal ela sabia que ficaria um ser muito frágil.
 

AGRADECIMENTOS

  Ao pai que já não está entre nós, Mariana nunca lhe agradeceu…ele esteve sempre lá… quando no hospital vinham as más noticias, ele era a sua varinha de condão, nunca foi de dar beijos, mas Mariana sabia que aquela sua maneira de ser é que lhe dava força para enfrentar o que estivesse para vir. Muito obrigada por teres sido assim, foste o seu herói, foste o melhor pai do Mundo. 
 
À sua mãe, um muito obrigada por ter aquela paciência que só uma mãe sabe ter. 
 
À sua irmã, um agradecimento muito especial, esteve sempre lá…  
 
Ao seu irmão casulo que nunca percebeu bem o que se estava a passar, e ainda bem, um beijo grande. 
 
À sua colega Clarisse e à sua melhor amiga, Lucília, muito obrigada pela força e ajuda.  
 
A todos os professores que passaram-na de ano, apesar de não ter frequentado o terceiro período de aulas, um muito obrigada.

Um agradecimento muito especial ao seu médico e a todas as enfermeiras, deram-lhe muito carinho que Mariana nunca os irá esquecer.
 

Só queria que fossem caracóis… 

Um dia, Mariana estava numa aula de ciências quando ficou muito mal disposta, começou a olhar para o professor com alguma dificuldade.
Na semana anterior enquanto estudava com algumas amigas no pátio do liceu, jogavam à bola um grupo de rapazes, subitamente a bola veio em direcção às raparigas e bateu em cheio na cabeça de Mariana, esta ficou um pouco atordoada e um pouco confusa, sem saber bem o que tinha acontecido.

Voltando à aula de ciências, estava tão mal disposta que teve de comentar com a colega Clarisse, esta logo de imediato disse ao professor Baptista, o professor reparou que Mariana realmente não estava nada bem, pediu à Clarisse que a levasse a casa. Foram as duas a pé, a casa de Mariana era longe do liceu, levaram algum tempo a chegar. 
 
Ao chegar a casa, Mariana foi para o seu quarto, a mãe, dona Sofia ficou muito preocupada com o sucedido. A amiga Clarisse regressou às aulas e comentou com os colegas e professores que Mariana não estava melhor.
 
À hora do almoço, o pai, David veio almoçar a casa como de costume e ao olhar para a filha, reparou que esta tinha a boca puxada para o lado esquerdo e tinha dificuldade a falar. O comer para ela começou a ser o seu pior inimigo, a vontade de comer foi-se embora, sempre que comia tinha vontade de vomitar, era tudo muito estranho, o que estaria a acontecer, começaram todos a ficar muito preocupados.
Passados alguns dias Mariana continuava na mesma, passava os dias a dormir, a noite para ela era o dia e o dia a noite, deixou de haver dia e noite pois os dois eram um só, todo o tempo era passado a dormir. Para comer, a mãe tinha que acordá-la, aquilo não podia continuar, estava na altura de levar Mariana ao médico, mas a que médico, talvez começar pelo médico de família...
(continua)