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quarta-feira, 22 de abril de 2009

(imagem tirada da net)

A Manhã Raia
A manhã raia. Não: a manhã não raia.

A manhã é uma coisa abstracta, está, não é uma coisa.
Começamos a ver o sol, a esta hora, aqui.
Se o sol matutino dando nas árvores é belo,
É tão belo se chamarmos à manhã «Começarmos a ver o sol»
Como o é se lhe chamarmos a manhã,
Por isso se não há vantagem em por nomes errados às coisas,
Devemos nunca lhes por nomes alguns.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" Heterónimo de Fernando Pessoa

sexta-feira, 17 de abril de 2009

BOM FIM DE SEMANA


Homem que vens de humanas desventuras,
que te prendes à vida e te enamoras,
que tudo sabes e que tudo ignoras,
vencido herói de todas as loucuras;

que te debruças, pálido, nas horas
das tuas infinitas amarguras
e na ambição das coisas mais impuras,
e és grande simplesmente quando choras;

que prometes cumprir e que te esqueces,
que te dás às virtudes e ao pecado,
que te exaltas e cantas e aborreces.

arquiteto do sonho e da ilusão,
ridículo fantoche articulado,
- eu sou teu camarada e teu irmão!


António Thomaz Botto

quarta-feira, 15 de abril de 2009


(Pintura de Gustav Klimt)
Rivais

Ó como a primavera madrugou!
Olha esses campos: como vem garrida!
- Maria, vê! Não sejas distraída...
Que belo sol e que feliz eu sou!

Tudo desperta em derredor: a vida
acorda, e traz um ar de quem sonhou...
- Mas tu não vês! Que pena, Amor! passou
uma andorinha, e lá se vai, perdida...

Sorris. E cismas... Que desdém o teu!
E eu fui chamar-te: - Vem! Que lindo céu!
É tudo vôo, e canto, e beijo, e graças... -

Que louco eu sou! Perdoa, Amor, não era
que tu viesses ver a primavera.
Ela é que fica a ver-te, quando passas!


António Correia de Oliveira

sexta-feira, 3 de abril de 2009

BOM FIM DE SEMANA

( imagem tirada da net)

“Se não consegues entender que o céu deve estar dentro de ti, é inútil buscá-lo acima das nuvens e ao lado das estrelas. Por mais que tenhas errado e erres, para ti haverá sempre esperança, enquanto te envergonhares de teus erros.”

Frase de Charles Chaplin

quarta-feira, 1 de abril de 2009


(imagem tirada da net)

















CANÇÃO

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar


Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.


O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...


Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.


Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedra
se as minhas duas mãos quebradas.

Cecília Meireles